segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Rainha do lar

Se o leão com seu brado rugido é o rei da floresta, nas nossas arrumadinhas casas dos anos 1970 a enceradeira reinava entre os eletrodomésticos. Para perturbar quem queria ela ganhava do liquidificador em som e tempo. Hoje superada por produtos pós-cera e outros lustras pisos maravilhosamente práticos, as rainhas de lata e longos fios chegavam a todos os cômodos do lar, praticamente só não passava em banheiros, jardins e terreiros cimentados. Lá estava ela, a magricela que parecia um aparato sofisticadíssimo, com colunas que dobravam na base, escovas pesadas ou leves, adequadas à superfície de trabalho. No taqueado, então, as velhas combatentes eram mestras. Só mamães e empregadas pareciam ter carteira de habilitação para pilotar aquelas sondas, mas nos atrevíamos a tentar dar cavalo de pau ou tentar lançar objetos colocados sob ela. Faziam suas tarefas (lustro ou brilho) com destemor, seja com uma ou duas bases giratórias. A de três me lembrava uma lateral da esteira de um tanque ou robô. A mais simples, com um discão de cerdas ou feltro, também tinha seu valor. Eram a nova geração daqueles escovões de ferro fundido e longos cabos de madeira. De rainha do lar virou rainha da sucata. Merecia uma canção de Odair José, o rei das domésticas, que cantavam músicas bregas como as dele. Mereciam uma biografia como memórias de enceradeira. Taí.