domingo, 13 de fevereiro de 2011

Virou suco

Q-Suco, que a gente pronunciava quísuco, era o refresco oficial da garotada. Refrigerante era coisa de fim de semana, festinha de aniversário e quermesse. O Q-Suco e o seu concorrente Q-Refresco, pozinhos colorinhos vendidos em sachês laminados por dentro, faziam jarras de litro de suco com enorme praticidade. Os sabores preferidos eram os de uva (roxo), framboesa (vermelho) e abacaxi (amarelo). E o efeito colateral de beber aquelas soluções com cor e aroma artificiais eram as línguas tingidas no tom da embalagem. Esses produtos também se convertiam nos chamados geladinhos, saquinhos plásticos colocados no congelador e vendidos por autônomos como picolés da hora. Acho que também se chamavam chup-chup. Mais adiante surgiu o Tang, uma versão mais encorporada e menos tinta do Q-Suco.

De olho no piolho

Lenços, tocas de banho e até sacos plásticos usados como capuz. Por dentro, doses fartas do pó tóxico Neocid, deixando nossa cabeleira grisalha. Era até engraçado ouvir o tic-toc da latinha sendo apertada para bombear o veneno branco por um buraquinho aberto com prego. Éramos proibidos de coçar enquanto o Neocid agia. “Não coça, não. Eles estão morrendo. É bom para matar as lêndeas (os filhotes do piolho)”, orientava quem aplicava. Para completar a operação, mamãe pegava uma folha de papel ou um pano e passava o pente-fino no cabelo. Este é o retrato do combate, liderado por nossas mães, a uma verdadeira epidemia social. O piolho não saía de nossas cabeças no primário e não era por descuido. Era só a cabeça começar a coçar pra coisa ficar muito desagradável e a batalha começar. Outra maneira de combatê-los era a dos macacos: sábado à tarde, nossas mães nos colocavam no colo e começavam a catar e a esmagar os insetos sangue-sugas com as unhas dos polegares. Quando achava um grande, diziam: “ó que boi!” Quem tinha muito cabelo, dizia-se que estava “pingando piolho”. Piolho era também apelido de menino comprido e magro.