sexta-feira, 19 de maio de 2017

Brinquedo inesquecível

Armas de fogo não são brinquedos politicamente corretos. Mas quando eu era criança, essas coisas não eram levadas em conta. Tinha lá minha querida arma de fogo calibre 38 de espoleta. Tinha outra prateada também de espoleta, um espetáculo. Mas a que eu mais gostei foi essa metralhadora laser, compartilhada com meu irmão Carlos. Bons tempos aqueles. Ela tinha um pequeno braço mecânico movido a pilha, que avançava por dentro do cano transparente com luzes e soltava uns sons de disparos. Estamos falando entre o fim dos anos 1970 e o começo dos anos 1980.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Musa de bolso

Os belos desenhos de um certo Benício, o maior pintor de cartazes de cinema do Brasil, criou a imagem da belíssima espiã de pocket books Brigitte Montfort. A minha mãe era leitora e colecionadora da série, com aventuras dignas de 007. Eram mil disfarces, vilões e aventuras nas páginas daqueles livrinhos de bolso. Mas o que mais chamava a atenções de nós, garotos, eram as figuras sensuais da heroína de olhos azuis. Belíssima e em trajes insinuantes (ou usando quase nada), ela enchia nossos olhos e jamais será esquecida. É, certamente, uma das minhas maiores musas desde a infância.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Doceira e salgadeira

Uma era doceira e a outra, salgadeira. Cada qual com a sua especialidade, formavam uma dupla talentosa, muito requisitada para festas de aniversário e de casamento na Curvelo das décadas de 1970 e 1980. Mestras de populares iguarias de mesa e de sobremesa, eram duas Marias a oferecer a excelência de coisas simples às famílias.


Protagonistas de uma arte tradicional, tocada por mãos calejadas de muitas Marias, elas nos brindavam não só com pratos inesquecíveis. Também zelavam com paixão por uma cultura culinária que celebrava a vida, o amor e a amizade.

Os bombons de amendoim de Maria Pretelis e as empadas de frango de Maria Barbosa provavam quão sofisticadas eram as receitas caseiras. Com os seus aventais de guerra, mais singelos que as elegantes vestes de chefes badalados pela tevê, elas faziam, uma a uma, as suas preciosidades.

O bombom de Dona Maria vinha do amendoim torrado e triturado no moedor de carne, que formava uma massa levemente crocante e açucarada, enrolada na palma da mão e depois coberta pela calda branca solvida no sumo do limão e logo cristalizada. Para complementar, essa doçura ganhava uma pitada de confeito colorido, a assinatura de suas raízes de Itália, terra de geniais confeiteiros.

Com um pé na cozinha da roça, a outra Dona Maria preparava uma carne branca, caipira e desfiada, amolecida na panela de pressão e temperada por um molho com muita azeitona e petit pois, como chamávamos a ervilha. O recheio era inserido com colher em massas a forrar e depois recobrir forminhas metálicas. Dali salgados essenciais iam para o forno e de lá saiam apetitosos.

A doceira matrona de pele clara e a salgadeira brejeira de lenço na cabeça eram fiadoras de uma parcela ímpar de um cardápio saboroso e requintado. Com estilos diferentes, o labor de cada uma servia a um tempo menos acelerado, de costumes autênticos e prazeres democráticos nas refeições. Por isso, o ofício meticuloso e sempre bem-sucedido dessas duas cândidas figuras merece o aplauso tardio.

De sua gastronomia nascida na beira do fogão de lenha e registrada em cadernos surrados de mães e avós vieram sabores e saberes que devem ser resgatados e valorizados. Foi a partir de memórias afetivas, embaladas por estórias que ainda me despertam saudade e água na boca, que busquei reavivar esse legado sertanejo.

Voltei a ter sete anos diante da imagem das duas Marias e de seus quitutes sobre bandejas de nosso lar. Pessoas passam, lembranças ficam e a vontade de degustar delícias de infância volta. 

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Doce na memória

RECEITA DE BALAINHO

Saiba como fazer o mais curvelano dos doces

Ingredientes:
1 coco ralado, 
400 g de açúcar cristal, 
1 pires de queijo ralado, 
4 gemas, 
1 colher de manteiga, 
1 porção de farinha de trigo.

- Faça a calda em ponto médio (nem mole, nem dura) com o açúcar.

- Escalde o coco e a manteiga, deixando esfriar.

- Depois, coloque as gemas batidas e peneiradas, a farinha de trigo, o queijo e, por último, acrescente a calda.

- Misture e coloque nas forminhas. Unte as forminhas com a manteiga, passe na farinha de trigo, depois na água e torne a passar a farinha.

- Está pronto para colocar o recheio.


- A receita vai ao forno em fogo médio e rende 40 balainhos.


Fonte: revista São Geraldo

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

O sertão em nós

O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem, ?m de rumo, terras altas, demais do Urucaia. Toleima. Para os de Corinto e do Curvelo, então o aqui não é dito sertão? Ah, que tem maior! Lugar sertão se divulga: é onde os pastos carecem de fechos; onde um pode torar dez, quinze léguas, sem topar com casa de morador; e onde criminoso vive seu cristo-jesus, arredado do arrocho de autoridade. O Urucuia vem dos montões oestes. Mas, hoje, que na beira dele, tudo dá — fazendões de fazendas, almargem de vargens de bom render, as vazantes; culturas que vão de mata em mata, madeiras de grossura, até ainda virgens dessas lá há. O gerais corre em volta. Esses gerais são sem tamanho. (...) cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniões… O sertão está em toda a parte. (João Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas)

segunda-feira, 25 de maio de 2015

CN, a nossa CNN

Havia um tempo que o mais importante órgão de imprensa de Curvelo era uma revista refinada e bem editada chamada Curvelo Notícias, CN. Anos depois "a" CN se tornou "o" CN, na versão jornal, que assim se manteve por mais de cinco décadas. O projeto liderado por Raimundo Martins dos Santos, a figura ímpar de Diquinho, inspirou outras publicações impressas.