domingo, 6 de junho de 2010

O segundo carango do pai

O primeiro carro de minha família em Curvelo foi um fuscão bonina, ou vinho, como se chamava a cor na época, mais escura do que o vermelho clássico. Antes desse veículo, meu pai andava de bicicleta. O segundo carro dele foi de longe o mais confortável de todos que teve: um corcel bege. A luz de centro do habitáculo do automóvel era, para mim, um luxo. Os cinzeiros embutidos também eram chiques, além de outros detalhes. Depois veio um Fiat 147 a álcool, made in Betim, verdão. O apelo do modelo estava na economia com gasto de combustível. Mas continuei com saudade do corcel, símbolo dos anos 1970, que tinha um logo com o belo cavalo do qual pegou o nome emprestado. Tempos de carroças. O Scort XR3, sobretudo o conversível, era, por exemplo, o carango dos sonhos dos garotos.

Gravado na memória

A nostalgia parece não ter fim. Lembre-me esses dias do velho gravador que ganhei no começo da adolescência. Era aqueles que a gente carregava numa capa de couro com alça, deixando abertas as teclas e a entrada da fita K7. Numa época em que não havia youtube e dvds, usávamos o gravador como álbum de figurinhas sonoras, para mostrar aos amigos. Lembro de ter gravado um trecho de Capitão Blood, com Errol Flyn, diretamente pescado da Sessão da Tarde. Meu irmão, por sua vez, gravou uma fala do musical Hair. Ali capturei minha imitação de um galo carijó e outras besteiras. Mais esperto foi a brincadeira nossa de simular diálogo com um robô, deixando trechos mudos seguidos de espaços com respostas gravadas para as esperadas perguntas nossas. Onde será que estão essas fitas?