domingo, 23 de agosto de 2009

Jardins da infância

Plantas em forma de bichos, seivas venenosas parecidas com cola escolar, lagartas de verde reluzente, casulos ocultos por folhas, trevos da sorte comestíveis, vasos feitos de raízes, canteiros cercados de pedra, flores convertidas em bailarinas, nomes engraçados, mãos cuidadosas cheias de calos, maquetes de floresta para bonequinhos, verde de todas as tonalidades e idades, segredos de minhoca, picadas doídas, água regada, muita água. O barulho da água da mangueira nas folhas grandes parecia tambores das selvas. Esta pode ser a descrição do país das maravilhas das crianças curvelanas que nasceram e cresceram entre os cultivos de jardins e quintais de suas casas. Decorar o lar era a razão oficial para a existência dos jardins, mas talvez fosse a menos importante. As crendices diziam que as plantas estavam lá por razões medicinais e espirituais. O cultivo de plantas ajudava a curar males do corpo e a espantar maus olhados. Quando lembro dos jardins da infância constato algo de mágico e de forte saudosismo. Percorria alamedas em todas épocas do ano. Sob o sol, todas as cores, com predomínio do verde. E para os meninos, brincadeiras e sonhos de aventuras.