quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Mármore de refinaria

Para dar conta de tanta criatividade fomentada pelas nossas boas escolas públicas de Curvelo dos anos 1970 e 1980, um material parecia ser indispensável. Com ele eram feitos variados painéis, bonecos e outros objetos decorativos. Eram as tradicionais placas ou folhas de isopor, de diferentes tamanhos e espessuras. Podiam ser cortados por facas dentadas, dessas de cortar pão, ou, com alguma habilidade, por arames em brasa. Ver as formas surgindo após o rápido deslizar do fio quente era como presenciar um instante mágico.

Milagre da chave

Se alguém se chama Geraldo tem alta probabilidade de ser mineiro e uma grande chance de ser curvelano. O santo italiano de Muro chegou por acaso na cidade e ganhou mais destaque local que o próprio padroeiro, Santo Antônio. Dos painéis que narram sua biografia (a mais inusitada dos heróis católicos) pintados por artistas europeus nas paredes da basílica de Curvelo, o que me chamava mais atenção era o do "milagre da chave". A idolatrada imagem do menino Jesus foi usada por Gerardo (o nome correto, no original) como imã para retirar a peça do fundo da cisterna. Para o espanto dos que presenciaram o milagre, a escultura surgia com o perdido na mão. Nossos olhos de menino se encantavam com aquele fenômeno protagonizado por um leigo que sonhava em ser sacerdote, a despeito de sua pobreza e baixa instrução. No santuário (a outra denominação do nosso majestoso templo redentorista) também se destacava a imagem do santo morto. Para os inocentes garotos, São Geraldo dormia de sapatos.